sábado, 2 de agosto de 2008

Pedagogia da Autonomia, pedagogia da consciência.

Isto é o cerne do livro, no meu ponto de vista, a grande questão em Paulo Freire é a tomada da consciência na educação, tanto pelo docente quanto pelo discente. A educação é posição política, construção do conhecimento em mão dupla e sentido da educação.
Teoria X prática, aluno X professor, estas relações são inicialmente abordadas por Paulo Freire para falar da pedagogia e do aprendizado-ensino. Segundo o autor, não existe ensino sem aprendizado, pois a arte de ensinar é uma construção histórica social que é tecida ao longo do percurso deste ofício. O contato do professor com o aluno é o momento para que ambos tenham uma relação que possibilite o aprendizado, pois “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender...” (Freire, 1996) e é nesta relação que a vida prática se constrói, da teoria à prática e novamente à teoria. Ele nos dá exemplos como cozinhar e velejar, onde o cozinheiro e o velejador conhecem seus ofícios, mas sempre o reinventam no contato com novas situações ou nas mesmas situações com algumas variáveis novas. Aliado a isto, o aprendizado é um ofício crítico, não pode ser um ato mecânico e programável como uma função automatizada, para falar desta relação dicotomicamente oposta, Freire apresenta dois tipos: o bancário e o problematizador, sendo o bancário o tipo autômato e o problematizador aquele que tem uma postura crítica com relação ao ensino-aprendizado.

Existe, contudo, a necessidade da existência de um método, é preciso que o educador estimule o educando ao pensar certo, que no dizer de Freire é o pensar crítico, fazer com que o educando encontre caminhos e alternativas para problemas propostos pela vida ou por ele mesmo na busca do aprendizado. Entrando neste método e nesta relação, a “dodiscência” ou a relação professor-aluno e a pesquisa. Pesquisa esta que é o elo fundamental entre a teoria e a prática, uma curiosidade epistemológica, ou seja, o estímulo à curiosidade crítica do saber. Tudo isto sem desrespeitar os saberes do educando, que traz consigo uma bagagem própria e de saberes únicos e próprios adquiridos em sua história e seu contexto cultural, os saberes culturais têm que ter uma intimidade com o esse saber cultural e o educador tem que saber utilizar-lo, esta liga fica mais consistente com o incentivo à uma crítica curiosa, o pesquisador tem que ser um ingênuo curioso, ou seja, suas perguntas são impulsionadas pelas mais “cruas” dúvidas, nunca sendo inibidas, mas transformadas em poderoso ecos de problematização. Segundo o autor, não existe criticidade sem curiosidade, pois aquela é filha desta e desta relação nasce o conhecimento, um conhecimento que desconfia da tecnologia, mas que a vê como “coisa” útil. O prazer do ensino é enfatizado pelo autor, pois a “boniteza” do aprendizado tem que ser elemento presente neste sistema, o prazer como atratividade ao aluno, que tem que se sentir atraído pelo mesmo, utilizando-se sistemas lúdicos e divertidos por vezes, de forma que a prática e a teoria se tornem atraente para os envolvidos nesta relação (Hoje em Dia).

O professor aventureiro tem que ter o entendimento de que o aprendizado é incompleto, uma eterna busca do saber pelo saber, sem uma funcionalidade tecnicista imediata. Onde existe vida, aí está o elemento do inacabado, o movimento, a releitura e a reconstrução; busca pelo pensar certo.

A autonomia é a capacidade de se guiar, se governar e buscar suas próprias experiências, incentivado sempre pelo bom senso do educador, que busca um equilíbrio para si próprio e para o aluno na relação ambivalente do ensino-aprendizado, tomada de posição ética e política e, além de tudo não perder a capacidade de se indignar com o mundo e suas mazelas. A educação não é passiva, apesar de não poder ser uma imposição da posição do educador e sim uma visão transparente de seu pensamento. Para que esta relação funcione, é preciso que haja respeito, bem querer ao aluno e acima de tudo o saber escutar.

Referências

Freire, Paulo. 1996. Pedagogia da Autonomia. São Paulo : Paz e Terra, 1996.
Hoje em Dia. Cidadão do Mundo: Prêmio "Eu Acredito". Jornal Hoje em Dia. [Online] Hoje em Dia.[Citado em: 15 de 11 de 2007.] http://www.hojeemdia.com.br/cidadaos/index.html.

Autor: Alexandre de Oliveira

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